quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Para Laura Geszti


Nem isto, nem aquilo

Do nada ao tudo,
O Universo

Do cheio ao vazio
Capazidades

Do macho à fêmea
Humano

Você a mim,
Um pano

A-morto


Casulo, casca, crosta, couraça
Corda, arame, camisa-forçada
Tijolo, cimento, parede, porta,
Aperto, apartado, apartalamento

Morto, forno, roto, chocho
Boquirroto, amarfanhado
Coto
Amorfo, espedaçado
Toco

Parto, regaço, abraço, beijo
Lã, algodão, seda, pelo
Hálito
Cálido
Morno
Vida

Anelo, enredo, a-medo
A mais
Assaz, assaz, assaz
Vento, solto, tento, molto
A-morto
Gozo


Grande Sertão: Veredas


Mas, agora, feita a folga que me vem, e sem pequenos dessossegos, estou de range rede. E me inventei neste gosto, de especular idéia. O diabo existe e não existe? Dou o dito. Abrenúncio. Essas melancolias. O senhor vê: existe cachoeira: e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água se caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso...

O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas sempre vão mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo é às brutas; mas Deus é traiçoeiro!

Ah, tem uma repetição, que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso as coisas - e no meio da travessia não vejo! - só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais em baixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?

Assim é que digo: eu, que o senhor já viu que tenho retentiva que não falta, recordo tudo da minha meninice. Boa, foi. Me lembro dela com agrado; mas sem saudade. Porque logo sufusa uma aragem dos acasos. Para trás, não há paz.

Acho que o espírito da gente é cavalo que escolhe estrada: quando ruma para tristeza e morte, vai não vendo o que é bonito e bom.

(...) a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é.