terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sincero

Palavra alguma, silêncios.

Um momento sequer.

Um movimento, um ar, um hálito...

Foste?

Foste um pirilampo...

Um relâmpago: isto me iluminaria!

Amarga

Sem sal ou doce

indócil

Amargo

Há fel nas abelhas das minhas palavras

Ingrato

Foste?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Reconhecimento para a Palestina

Um vídeo que oferece um novo caminho para a paz no Oriente Médio:
http://www.avaaz.org/po/middle_east_peace_now/96.php

AVAAZ.org: The World in Action

Tarja preta?

Instigante artigo publicado na revista Piauí deste mês. Selecionei alguns trechos. Leia a íntegra na revista.





A epidemia de doença mental

Por que cresce assombrosamente o número de pessoas com transtornos mentais e de pacientes tratados com antidepressivos e outros medicamentos psicoativos

por Marcia Angell

Parece que os americanos estão em meio a uma violenta epidemia de doenças mentais. A quantidade de pessoas incapacitadas por transtornos mentais, e com direito a receber a renda de seguridade suplementar ou o seguro por incapacidade, aumentou quase duas vezes e meia entre 1987 e 2007 – de 1 em cada 184 americanos passou para 1 em 76.

No que se refere às crianças, o número é ainda mais espantoso: um aumento de 35 vezes nas mesmas duas décadas.

(...) A substituição da “terapia de conversa” pela das drogas como tratamento majoritário coincide com o surgimento, nas últimas quatro décadas, da teoria de que as doenças mentais são causadas por desequilíbrios químicos no cérebro, que podem ser corrigidos pelo uso de medicamentos. Essa teoria passou a ser amplamente aceita pela mídia e pelo público, bem como pelos médicos, depois que o Prozac chegou ao mercado, em 1987, e foi intensamente divulgado como um corretivo para a deficiência de serotonina no cérebro.

(...) O que está acontecendo? A preponderância das doenças mentais sobre as físicas é de fato tão alta, e continua a crescer? Se os transtornos mentais são biologicamente determinados e não um produto de influências ambientais, é plausível supor que o seu crescimento seja real? Ou será que estamos aprendendo a diagnosticar transtornos mentais que sempre existiram? Ou, por outro lado, será que simplesmente ampliamos os critérios para definir as doenças mentais, de modo que quase todo mundo agora sofre de uma delas? E o que dizer dos medicamentos que viraram a base dos tratamentos? Eles funcionam? E, se funcionam, não deveríamos esperar que o número de doentes mentais estivesse em declínio e não em ascensão?

Essas são as questões que preocupam os autores de três livros provocativos, aqui analisados. Eles vêm de diferentes formações: Irving Kirsch é psicólogo da Universidade de Hull, no Reino Unido; Robert Whitaker é jornalista; e Daniel Carlat é um psiquiatra que clinica num subúrbio de Boston.

Os autores enfatizam diferentes aspectos da epidemia de doença mental. Kirsch está preocupado em saber se os antidepressivos funcionam. Whitaker pergunta se as drogas psicoativas não criam problemas piores do que aqueles que resolvem. Carlat examina como a sua profissão se aliou à indústria farmacêutica e é manipulada por ela. Mas, apesar de suas diferenças, os três estão de acordo sobre algumas questões importantes.

Em primeiro lugar, concordam que é preocupante a extensão com a qual as empresas que vendem drogas psicoativas – por meio de várias formas de marketing, tanto legal como ilegal, e usando o que muita gente chamaria de suborno – passaram a determinar o que constitui uma doença mental e como os distúrbios devem ser diagnosticados e tratados.

Em segundo lugar, nenhum dos três aceita a teoria de que a doença mental é provocada por um desequilíbrio químico no cérebro.

(...) Quando se descobriu que as drogas psicoativas afetam os níveis de neurotransmissores, surgiu a teoria de que a causa da doença mental é uma anormalidade na concentração cerebral desses elementos químicos, a qual é combatida pelo medicamento apropriado.

Por exemplo: como o Thorazine diminui os níveis de dopamina no cérebro, postulou-se que psicoses como a esquizofrenia são causadas ​​por excesso de dopamina. Ou então: tendo em vista que alguns antidepressivos aumentam os níveis do neurotransmissor chamado serotonina, defendeu-se que a depressão é causada pela escassez de serotonina. Antidepressivos como o Prozac ou o Celexa impedem a reabsorção de serotonina pelos neurônios que a liberam, e assim ela permanece mais nas sinapses e ativa outros neurônios. Desse modo, em vez de desenvolver um medicamento para tratar uma anormalidade, uma anormalidade foi postulada para se adequar a um medicamento.

Trata-se de uma grande pirueta lógica, como apontam os três autores. Era perfeitamente possível que as drogas que afetam os níveis dos neurotransmissores pudessem aliviar os sintomas, mesmo que os neurotransmissores não tivessem nada a ver com a doença. Como escreve Carlat: “Por essa mesma lógica, se poderia argumentar que a causa de todos os estados de dor é uma deficiência de opiáceos, uma vez que analgésicos narcóticos ativam os receptores de opiáceos do cérebro.” Ou, do mesmo modo, se poderia dizer que as febres são causadas pela escassez de aspirina.

Mas o principal problema com essa teoria é que, após décadas tentando prová-la, os pesquisadores ainda estão de mãos vazias. Os três autores documentam o fracasso dos cientistas para encontrar boas provas a seu favor. Antes do tratamento, a função dos neurotransmissores parece ser normal nas pessoas com doença mental. Por razões óbvias, as indústrias farmacêuticas fazem questão de que seus testes positivos sejam publicados em revistas médicas, e os médicos fiquem sabendo deles. Já os testes negativos ficam nas gavetas da FDA, que os considera propriedade privada e, portanto, confidenciais. Essa prática distorce a literatura médica, o ensino da medicina e as decisões de tratamento.

(...) O que todos esses medicamentos “eficazes” tinham em comum era que produziam efeitos colaterais, sobre os quais os pacientes participantes haviam sido informados de que poderiam ocorrer.

Diante da descoberta de que quase qualquer comprimido com efeitos colaterais era ligeiramente mais eficaz no tratamento da depressão do que um placebo, Kirsch especulou que a presença de efeitos colaterais em indivíduos que recebem medicamentos lhes permitia adivinhar que recebiam tratamento ativo – e isso foi corroborado por entrevistas com pacientes e médicos –, o que os tornava mais propensos a relatar uma melhora. Ele sugere que a razão pela qual os antidepressivos parecem funcionar melhor no alívio de depressão grave do que em casos menos graves é que os pacientes com sintomas graves provavelmente tomam doses mais elevadas e, portanto, sofrem mais efeitos colaterais.Os livros de Irving Kirsch, Robert Whitaker e Daniel Carlat são acusações enérgicas ao modo como a psiquiatria é praticada hoje em dia. Eles documentam o “frenesi” do diagnóstico, o uso excessivo de medicamentos com efeitos colaterais devastadores e os conflitos de interesse generalizados. Os críticos podem argumentar, como Nancy Andreasen o faz em seu artigo sobre a perda de tecido cerebral no tratamento antipsicótico de longo prazo, que os efeitos colaterais são o preço que se deve pagar para aliviar o sofrimento causado pela doença mental. Se soubéssemos que os benefícios das drogas psicoativas superam seus danos, isso seria um argumento forte, uma vez que não há dúvida de que muitas pessoas sofrem gravemente com doenças mentais. Mas como Kirsch, Whitaker e Carlat argumentam, essa expectativa pode estar errada. (...)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Nomes 2

O que sai de mim é meu, por enquanto.
Por encanto, minhas palavras já não são minhas.

Sou invisível sob o sol?
Ei, estou aqui, não está me vendo!?
Reescrevo: não está me lendo?

O indizível... é o que?

Indirigível, indigerível,
impróprio para consumo.
Pronto!, descubro: impróprio para consumo, estou.

Com o sumo da vida flerto. Apenas flerto.
Tanto me atrai.
Sem motivo?, afasto.
Desmotivado, me enfastio.

Tanto me distrai.

O cio do mundo me assusta.
O poder dos homens me assusta.
A beleza das meninas me assusta.

Insulto, xingo,
os assuntos me fogem.
Os nomes me esquecem.

Qual é a cor do seu perfume,
qual é o gosto da sua voz,
qual é o cheiro do seu toque?

Urjo: um pouco (muito estaria melhor)
do outro.
Ausentar-me, mergulhar-me em seus lados,
encharcar-me em seus líquidos,
Desejar-lhe minha falta.

A falta, a ignorância,
Os pedaços,
Com quantos fonemas rearrumo meus silêncios?

Um colo, um sorriso,
um olhar (“sim, eu te entendo”),
algo assim, banal,
banal, banal...
palavra fáceis
vida vilã...

carnal, carnal
sentidos alertas
conjecturas mortas

me dá um pedaço da sua alegria?
me dá um naco da sua voz farta?
me dá... qualquer coisa

uma coisa bem coisa
sem causa
uma coisa de efeito

me dá algo do seu outro mundo?

uma coisa bem coisa
sem nome
banal
desavergonhada

O que sai de mim é seu, por enquanto.


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Nomes

Nomear,
ato ou efeito de pensar

Pensar,
distrato ou defeito de sentir

Sinto,
atuo enfeitado vivo

Viver,
ato ou efeito de nomear?

Sofismo

Só fico
sofismo

Só cismo
ensimesmo

um grande cisma me desoriente
um abalo, um sismo, um acidente

Buraco

Este oco
isto que parece vazio

Este buraco
é falta ou possibilidade?

Esta falta
esta festa que a vida promete

Estas possibilidades
fortalecem ou exigem esforço?

Este troço
me torce
Torço

Este moço
vivendo na pele de um velho

Este velho
morrendo no osso do moço

este lampião
metade querosene
ar metade

quer muito
ainda por muito
alumiar

Este oco
este naco

Este buraco