segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Saramago

...não é por serem breves as ausências que a alegria será menor, afinal a ausência é também uma morte, a única e importante diferença é a esperança.
   
José Saramago - O Evangelho Segundo Jesus Cristo

Escuridão

Pelo singelo motivo,
Da vida nos haver ensinado
- uma vez que somos -
duas pequenas certezas:
Um dia nada fomos,
Qualquer noite desta
Nada seremos,
Ficamos a exigir daquela,
A Vida,
Novas e confortáveis lições.

Mas a Vida cala.

Passamos, então,
A implorar por clareza
Em nós, em volta e,
principalmente,
Em quem amamos.
Porém, debaixo de todo este Sol,
conseguimos vislumbrar, apenas,
Esta luz imensa,
ofuscando nossas retinas.

E quando somos filhos,
perguntamos, perguntamos, perguntamos,
Para anos depois, pedirmos:

Me perdoa, meu filho,
teu pai sabe apenas as perguntas.

Me perdoem meus pais,
eu desconhecia a escuridão do mundo.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Mínimo

O que me faz sentir
O que me faz saudar
O que me faz sonhar

A quem me apraz servir
A quem me apraz amar
A quem me apraz guardar

Onde for eu em mim
Quando é eu em ti

O mais, é escasso
O mais, é excesso

Pô-ema

Estúpido!
   -Arrogante!
      -Tacanho! Por que estúpido?
            -?
               -No começo do poema!
                  -Poema?
                     -Este...

-Um punhado de ofensas, poesia???,
não, não e não!
  
                  -A vida é poesia!
               -Algo, seria...
            -O mundo é arte!
         -Parte!
      -Tacanho!
   -Arrogante!
-Estúpido!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Grande Sertão: Veredas

Viver - não é? - é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo.
   

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Vício

Quais são as cores do seu vício?
Quais são as dores do seu vício?

Em que instante momento,
teve início o seu vício?

Há fim em seu vício?

O vício, mata, seca, isola,
O vício alarga, expressa, aflora.

Por quantos orifícios entram os alívios dos seus vícios?

O vício inala, inspira, lambe,
O vício injeta, engole, sangue,

O vício muda, manda, empurra,
O vício emperra, esmurra, esperma,

O vício deglute.

O vício pensa, pensa, pensa,
De tanto refletir,
Vicia.
O vício deseja, quero-quero,
De tanto repetir,
Vicia.

De quem você esconde os seus vícios,
De quem os seus vícios lhe escondem?

Encurva, turva, engana,
Raspa, rasga, esgarça,
Alonga, dilata, amansa,
Mostra, revela, ensina,

O vício sabe.

Há viço, há graça, há brio,
Há massa,
Em seus vícios?

A vida amarga, atrasa,
Amassa,
Sem seus vícios?

A quem de seus vícios
você levaria para uma vida deserta?

- // -

Alguém totalmente puro, inteiramente casto,
Não terá se viciado, em dado momento,
Na pureza de seu recatamento?

Grande Sertão: Veredas

Para ódio e amor que dói, amanhã não é consolo.

Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.

O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo demais.
  

domingo, 9 de janeiro de 2011

Redenção 2

O amor por um filho,
É um amor que dói,
Quando terríveis sentimentos
De perda,
Fuzilam nossa alma.

O amor de um filho,
É um amor que cura,
Quando um gesto, um cheiro, um som
Um sorriso,
Devolvem o sentido,
A tudo o que não havia.
   

Redenção

Este sorriso nos teus lábios...
Um sonho dentro de um sonho.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Ode ao Homem Tecnológico (Sexo, Sangue e Sofás)


Ode ao Homem Tecnológico
(Sexo, Sangue e Sofás)

- Como é glorioso o homem tecnológico!

Em poucos séculos, venceremos a morte
E todos viverão, felizes?, para sempre

E a poesia, e as artes, e as religiões,
Ainda servirão?

O temor pelo fim, terminará.
A angústia pela finalidade,
Esta não há de esmorecer.

Sim, as artes ainda servirão.
O fervor religioso, amém, por certo que não.

A Poesia?
Existirá, apenas. Não é de seu feitio servir.

- Como é glorioso e inventivo o homem tecnológico!

Da criatividade,
Para o cruel, o sádico,
O sarcástico, o esmagamento,
Nunca nos livraremos.

Inventaremos, sempre,
Novas formas de sofrimento.

O Circo Romano foi a criação mais genuinamente humana.
Comparável, apenas a bomba atômica.


- Como é glorioso...


Confortavelmente recostado em meu sofá,
Assisto às desgraças cotidianas.

Medianas, Grandiosas, Espetaculares,
Inesquecíveis.
Até que o tédio nos separe.

Não te aborreças, porém, se
Por algum acaso,
Perderes o teu noticiário favorito.

O sangue, de uma forma ou de outra,
Respingará em tua face.

Em alta definição, em 3D,
Em pixeis megalomaníacos,
Em câmaras lentas,


Em dolby estéreo, em 5.1 canais, em 51 canis,
em 51.000 bacanais.

Em uma catarseofoniquisteria.

- Como é glorioso e inventivo e incansável e imponente o homem tecnológico!

Amigos íntimos de algum desconhecido
Infeliz, em seu país distante,
Esqueceremos do bom-dia do dia-a-dia,
Ao nosso vizinho, o recusaremos.

E vamos nos perdendo,
Em frente às telas maravilhosas,
Hipertelas, Hipnóticas.

(Como é só o homem tecnológico...)

E o Sexo, disponível
Em quantidades intangíveis, intangível.
Sem odor, sem calor, sem suor, sem rubor.

O sexo cru, cruento, cruel
Preciso, profissional,
Industrial.

O sexo em 666.999 polegadas.

Imenso, descomunal,
Grandioso,
Monstruoso.

Indecentemente maior
Do que o meu simples e ridículo sexo de homem.

E todos viraremos bestas lascivas]

- Como é glorioso e inventivo e incansável e imponente e potente o homem tecnológico!

A impotência nos assombra...

Mas espere!


O gatinho que mora comigo,
Por minha filha escolhido,
Acaba de derrubar o mouse no chão,
Pedindo um pouco de carinho...