quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Alto lá!

Alto lá!

baixa o tom,
um ou dois, ou mais

uma oitava completa,
a melhor medida

segura toda palavra

qualquer palavra
por segura que fosse
arriscar-se-ia

escorreria
gota ácida
a dissolver a paz

tenho os meus dias diamante
gentil, homem feito, balanceado

e também os de dinamite
bem sabes

pavio seco
meio centímetro
do anjo à extra fera

cuida bem dos teus olhares
visita meus limítrofes
dá conta de quantos calos me ferem

Alto lá!
Estou a um nada de me descaber

se coubesse música nestas horas
estaria acima do si, suspendido
quase em dó

appassionato...
tanto te arriscas...

a descer escalas por mim
aos graves dos meus silêncios
aos baixos dos meus temperos

Te cuida...
deixa que eu te proteja,
afasta-te dos meus desterros

Alto lá!
Esta noite é de lua negra.

Amores

crédito desconhecido

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Atento

tomo tento
atento

tomo vinho
tinto ou branco
para lubrificar pensares emperrados
gelatinizar olhares

aprendo
apreendo
empreendo

desisto muitas das vezes

prometi em amizade
(jura de lágrimas é jura de sangue)
abraçar, com fervor,
a minha tanta incoerência

fracassei muito
gosto amargo de fiascos
em minha garganta

mas tomo tento
concentro

junto palavras, lembranças e sem-tidos

nada como um bom analgésico
nas horas em que a mente aquece

choro, choro, e choro
e prometo tomar tento

nunca esqueço, porém, do acordo feito
(pacto com bom amigo
nem o de encruzilhada supera):
desanuviar, destentar, desatentar

sorver toda gota de minha incoerência

Para Julio Moretzsohn

Amores

Crédito desconhecido

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sumário

em suma
insumo

a bem de servir
células realinhadas
condenações reordenadas

em minúsculas entranhas
de seres quase nada
meio vida, metade morte

em suma
algo

a bem de informar
nada em especial
a minar as minhas alegrias hoje

Vislumbrei, apenas,
cri, em quase iluminar
(descrente sou):

ínfimas partículas minhas
íntimas pedrinhas de eu, Pedro
(pedra impolida),
liberadas de mim.

libertando minha brava e breve e rígida organização

alimentando mundos

em suma
insumo

em nada
tudo

Amores

Crédito desconhecido

sábado, 24 de dezembro de 2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Vide o Verso

vide o verso
vinde o verso

ativa tuas narinas e pupilas

ao primeiro mofo interno
no tecido límpido da fronha
onde se deitam as tuas gentilezas

lava-te

ao primeiro naco de tecido puído
agarra uma linha
a primeira que alcançares

puxa com firmeza
e com toda a delicadeza
desvela o novelo

costura uma nova pele
firme
troca de superfície

só não te esqueça do verso

do reverso
do inverso
do avesso

vide o verso

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Preciso

tornar exato
nada mais preciso

buscar a justa medida
apenas para contorná-la

recortá-la

meus versos se encantando
mais e mais
pelo inútil, o desnecessário do exato

a necessidade, o básico: canos sob as ruas
água pobre
nada além do prometido...

um mais mais preciso
preciso, necessito

mais ar em meus pulmões
mais sangue em minhas feridas
mais saliva

a precisão do corpo sábio
preciso

Amores

José e Pilar
crédito desconhecido

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Menos...

Você não salvará a minha pele
mas pode afagá-la um pouco
e este é um pouco tudo

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Distraído

Quantas horas já se me ofereceram
sem que eu a elas tivesse dado a necessária atenção?

Quantos minutos morreram
sem um íntegro olhar meu à pluralidade singular das coisas?

Quantos segundos passaram
vazios, desde que passei a fazer parte do conjunto dos tempos?

Quanto mais terei que perder e morrer
até me aperceber das horas, minutos e coisas
até não mais passar incólume
pelas vias dos fatos? 

Mimado

Não aceito contratempo algum
menino mimado

Neste campo minado
explodido em meu peito
ausculto estilhaços
de minhas paixões

Nesta bacia náufraga
aventada em meu ventre
afogam-se águas revoltas
revolve-se o vício da falta

fatiado
enfastiado
assaltam-me temores

terrores noturnos e diurnos

o vigia da noite
dorme de dia
e também à noite

o porteiro do dia
trancou a porta da casa
e jogou a chave na noite

o fora da gente é a superfície de um mundo
maior que o mundo do lado de fora da gente

do lado da gente, ninguém

Não aceito espera alguma
garoto afoito

afloram
defloram
floram aflitos
mudos gritos de êxtase
em meu aparelho fonotriturador

do lado de dentro
olho quietinho, alerta
pro mundo além dos dentes

Não aceito pouco algum
homem voraz
queria te morder agora

Rumo

Perdido o rumo
me aprumo
Perdido o prumo
arrumo
Perdido o sumo
me assumo perdidamente sem rumo

rumino, rumino, rumino
mastigo capim amargo
boi manso
boi magro
boi bobo

sonsoslaio, desejo
desejo tanto que esqueço
o início de tanto desejo

quis, consegui

outro querer
quis, persegui

outro mais querer
quis, não me quis

sem querer, desisto
com querer, insisto

aguardo as horas
os assuntos, os buracos, me embaralham

cartas na mesa
esperando o momento de desvelá-las
resvalando em minhas apostas
voam debandadas a um berro meu

repito o erro sabido

eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu
rumino

boi tonto
boi solto
perdido em tanto capim

bichão bichinho
rumino
sem rumo

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Léxico amoroso

Amar
a.mar
vt, direto, indireto ou oculto, verbo transigente (lat amare) 1 Acolher 2 Aceitar 3 Arriscar(-se) 4 Confundir(-se): Quem ama o feio, o monstruoso poderá estar amando. 5 Iludir(-se): Amor eterno. 6 Delirar: Ama a Deus sobre todas as coisas! 7 Fazer sexo; rezar: Amaram-se biblicamente. Antônimo: desistir.

Amor
a.mor
sm, sf, transgênero, platônico ou plutônico (ingl love) 1 Altruísmo; entrega; compreensão 2 Auto-centrismo: Transbordavam de amor-próprio. 3 Amizade: Amor ao próximo. 3 Um dos sete pecados capitais: Amar ao próximo do próximo. Antônimo: covardia.

Amante
a.man.te
adj m+f_f+f_m+m (franc amant) 1 Aquele(s) que ousa(m) viver. 2 Diz-se, hodiernamente, dos loucos, tolos, insensatos, insanos, insantos, ingênuos e assemelhados. Antônimo: Descolado.

Nó(s)

à realidade da ficção
fui incapaz de adequar
a ficção da nossa realidade

domingo, 11 de setembro de 2011

Caminhos

O Norte é ser forte
e a dor?
há que se ter a dor

Há que se ter ardor

O Sul, na rosa dos ventos
é embaixo,
ou para trás

retroceder, nunca
nunca?
a vida nos enleva

O Leste, o Oeste
direita, esquerda, volver

Vou ver o mundo
do Norte ao Sul
até que a morte me arrepare

descaminhos, desacertos
atalhos longos...

retalho minhas escolhas
rearrumo
re rumo

ao Norte?
e tenho lá esta força que o Mundo me cobra?...

Vem Rosa
me ergue pelos braços
me acalenta em seus ventos
me mostra o Mundo
os sentidos nos sentidos

calçaremos sapatilhas de plumas
e juntos
eu e você, Rosa, e os ventos
juntos bailarinos
encontraremos a paz dos caminhos fluidos

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Este dia

Este dia não me pertence
Esta noite me engole

Um sono que nunca durmo
Turvo, devaneio

Este dia não veio ao que disse
Esta noite me encolhe

Estes tempos não me pertencem

Definha, infindo
este dia que não me acolhe

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sincero

Palavra alguma, silêncios.

Um momento sequer.

Um movimento, um ar, um hálito...

Foste?

Foste um pirilampo...

Um relâmpago: isto me iluminaria!

Amarga

Sem sal ou doce

indócil

Amargo

Há fel nas abelhas das minhas palavras

Ingrato

Foste?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Reconhecimento para a Palestina

Um vídeo que oferece um novo caminho para a paz no Oriente Médio:
http://www.avaaz.org/po/middle_east_peace_now/96.php

AVAAZ.org: The World in Action

Tarja preta?

Instigante artigo publicado na revista Piauí deste mês. Selecionei alguns trechos. Leia a íntegra na revista.





A epidemia de doença mental

Por que cresce assombrosamente o número de pessoas com transtornos mentais e de pacientes tratados com antidepressivos e outros medicamentos psicoativos

por Marcia Angell

Parece que os americanos estão em meio a uma violenta epidemia de doenças mentais. A quantidade de pessoas incapacitadas por transtornos mentais, e com direito a receber a renda de seguridade suplementar ou o seguro por incapacidade, aumentou quase duas vezes e meia entre 1987 e 2007 – de 1 em cada 184 americanos passou para 1 em 76.

No que se refere às crianças, o número é ainda mais espantoso: um aumento de 35 vezes nas mesmas duas décadas.

(...) A substituição da “terapia de conversa” pela das drogas como tratamento majoritário coincide com o surgimento, nas últimas quatro décadas, da teoria de que as doenças mentais são causadas por desequilíbrios químicos no cérebro, que podem ser corrigidos pelo uso de medicamentos. Essa teoria passou a ser amplamente aceita pela mídia e pelo público, bem como pelos médicos, depois que o Prozac chegou ao mercado, em 1987, e foi intensamente divulgado como um corretivo para a deficiência de serotonina no cérebro.

(...) O que está acontecendo? A preponderância das doenças mentais sobre as físicas é de fato tão alta, e continua a crescer? Se os transtornos mentais são biologicamente determinados e não um produto de influências ambientais, é plausível supor que o seu crescimento seja real? Ou será que estamos aprendendo a diagnosticar transtornos mentais que sempre existiram? Ou, por outro lado, será que simplesmente ampliamos os critérios para definir as doenças mentais, de modo que quase todo mundo agora sofre de uma delas? E o que dizer dos medicamentos que viraram a base dos tratamentos? Eles funcionam? E, se funcionam, não deveríamos esperar que o número de doentes mentais estivesse em declínio e não em ascensão?

Essas são as questões que preocupam os autores de três livros provocativos, aqui analisados. Eles vêm de diferentes formações: Irving Kirsch é psicólogo da Universidade de Hull, no Reino Unido; Robert Whitaker é jornalista; e Daniel Carlat é um psiquiatra que clinica num subúrbio de Boston.

Os autores enfatizam diferentes aspectos da epidemia de doença mental. Kirsch está preocupado em saber se os antidepressivos funcionam. Whitaker pergunta se as drogas psicoativas não criam problemas piores do que aqueles que resolvem. Carlat examina como a sua profissão se aliou à indústria farmacêutica e é manipulada por ela. Mas, apesar de suas diferenças, os três estão de acordo sobre algumas questões importantes.

Em primeiro lugar, concordam que é preocupante a extensão com a qual as empresas que vendem drogas psicoativas – por meio de várias formas de marketing, tanto legal como ilegal, e usando o que muita gente chamaria de suborno – passaram a determinar o que constitui uma doença mental e como os distúrbios devem ser diagnosticados e tratados.

Em segundo lugar, nenhum dos três aceita a teoria de que a doença mental é provocada por um desequilíbrio químico no cérebro.

(...) Quando se descobriu que as drogas psicoativas afetam os níveis de neurotransmissores, surgiu a teoria de que a causa da doença mental é uma anormalidade na concentração cerebral desses elementos químicos, a qual é combatida pelo medicamento apropriado.

Por exemplo: como o Thorazine diminui os níveis de dopamina no cérebro, postulou-se que psicoses como a esquizofrenia são causadas ​​por excesso de dopamina. Ou então: tendo em vista que alguns antidepressivos aumentam os níveis do neurotransmissor chamado serotonina, defendeu-se que a depressão é causada pela escassez de serotonina. Antidepressivos como o Prozac ou o Celexa impedem a reabsorção de serotonina pelos neurônios que a liberam, e assim ela permanece mais nas sinapses e ativa outros neurônios. Desse modo, em vez de desenvolver um medicamento para tratar uma anormalidade, uma anormalidade foi postulada para se adequar a um medicamento.

Trata-se de uma grande pirueta lógica, como apontam os três autores. Era perfeitamente possível que as drogas que afetam os níveis dos neurotransmissores pudessem aliviar os sintomas, mesmo que os neurotransmissores não tivessem nada a ver com a doença. Como escreve Carlat: “Por essa mesma lógica, se poderia argumentar que a causa de todos os estados de dor é uma deficiência de opiáceos, uma vez que analgésicos narcóticos ativam os receptores de opiáceos do cérebro.” Ou, do mesmo modo, se poderia dizer que as febres são causadas pela escassez de aspirina.

Mas o principal problema com essa teoria é que, após décadas tentando prová-la, os pesquisadores ainda estão de mãos vazias. Os três autores documentam o fracasso dos cientistas para encontrar boas provas a seu favor. Antes do tratamento, a função dos neurotransmissores parece ser normal nas pessoas com doença mental. Por razões óbvias, as indústrias farmacêuticas fazem questão de que seus testes positivos sejam publicados em revistas médicas, e os médicos fiquem sabendo deles. Já os testes negativos ficam nas gavetas da FDA, que os considera propriedade privada e, portanto, confidenciais. Essa prática distorce a literatura médica, o ensino da medicina e as decisões de tratamento.

(...) O que todos esses medicamentos “eficazes” tinham em comum era que produziam efeitos colaterais, sobre os quais os pacientes participantes haviam sido informados de que poderiam ocorrer.

Diante da descoberta de que quase qualquer comprimido com efeitos colaterais era ligeiramente mais eficaz no tratamento da depressão do que um placebo, Kirsch especulou que a presença de efeitos colaterais em indivíduos que recebem medicamentos lhes permitia adivinhar que recebiam tratamento ativo – e isso foi corroborado por entrevistas com pacientes e médicos –, o que os tornava mais propensos a relatar uma melhora. Ele sugere que a razão pela qual os antidepressivos parecem funcionar melhor no alívio de depressão grave do que em casos menos graves é que os pacientes com sintomas graves provavelmente tomam doses mais elevadas e, portanto, sofrem mais efeitos colaterais.Os livros de Irving Kirsch, Robert Whitaker e Daniel Carlat são acusações enérgicas ao modo como a psiquiatria é praticada hoje em dia. Eles documentam o “frenesi” do diagnóstico, o uso excessivo de medicamentos com efeitos colaterais devastadores e os conflitos de interesse generalizados. Os críticos podem argumentar, como Nancy Andreasen o faz em seu artigo sobre a perda de tecido cerebral no tratamento antipsicótico de longo prazo, que os efeitos colaterais são o preço que se deve pagar para aliviar o sofrimento causado pela doença mental. Se soubéssemos que os benefícios das drogas psicoativas superam seus danos, isso seria um argumento forte, uma vez que não há dúvida de que muitas pessoas sofrem gravemente com doenças mentais. Mas como Kirsch, Whitaker e Carlat argumentam, essa expectativa pode estar errada. (...)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Nomes 2

O que sai de mim é meu, por enquanto.
Por encanto, minhas palavras já não são minhas.

Sou invisível sob o sol?
Ei, estou aqui, não está me vendo!?
Reescrevo: não está me lendo?

O indizível... é o que?

Indirigível, indigerível,
impróprio para consumo.
Pronto!, descubro: impróprio para consumo, estou.

Com o sumo da vida flerto. Apenas flerto.
Tanto me atrai.
Sem motivo?, afasto.
Desmotivado, me enfastio.

Tanto me distrai.

O cio do mundo me assusta.
O poder dos homens me assusta.
A beleza das meninas me assusta.

Insulto, xingo,
os assuntos me fogem.
Os nomes me esquecem.

Qual é a cor do seu perfume,
qual é o gosto da sua voz,
qual é o cheiro do seu toque?

Urjo: um pouco (muito estaria melhor)
do outro.
Ausentar-me, mergulhar-me em seus lados,
encharcar-me em seus líquidos,
Desejar-lhe minha falta.

A falta, a ignorância,
Os pedaços,
Com quantos fonemas rearrumo meus silêncios?

Um colo, um sorriso,
um olhar (“sim, eu te entendo”),
algo assim, banal,
banal, banal...
palavra fáceis
vida vilã...

carnal, carnal
sentidos alertas
conjecturas mortas

me dá um pedaço da sua alegria?
me dá um naco da sua voz farta?
me dá... qualquer coisa

uma coisa bem coisa
sem causa
uma coisa de efeito

me dá algo do seu outro mundo?

uma coisa bem coisa
sem nome
banal
desavergonhada

O que sai de mim é seu, por enquanto.