domingo, 13 de maio de 2012

Eu, meu

hoje, esvaziado de sentidos
pretendia jogar ao mundo
palavras do meu eu mais profundo

que me preenchessem
que me esvaziassem da angústia

porém, admoestado por um poeta amigo
percebi o perigo
de transformar meus versos
em um muro íntimo de lamentações

eu, meu, eu, meu

hoje, em resposta a outro artista
este um tanto sem tato
não vesti os trapos
de um pobre coitadinho

com trajes de profeta
e olhos de sábio poeta
quis revelar os outros
quis reler as vidas

falho

mais de poema e meio andado
me traio

auto falo
falo ereto

amo solitário em praça púbica
meus ínfimos dissabores
sonso egoísta

eu, meu, eu, meu

me perdoem bardo solidário
e meu irmão inquieto

nada acrescento, hoje
ao saber ou fazer dos homens

escrevo traças

não entrego
um pingo de alívio
às melancolias alheias

continuo poetando em mim

eu, meu, eu, meu