sábado, 8 de janeiro de 2011

Ode ao Homem Tecnológico (Sexo, Sangue e Sofás)


Ode ao Homem Tecnológico
(Sexo, Sangue e Sofás)

- Como é glorioso o homem tecnológico!

Em poucos séculos, venceremos a morte
E todos viverão, felizes?, para sempre

E a poesia, e as artes, e as religiões,
Ainda servirão?

O temor pelo fim, terminará.
A angústia pela finalidade,
Esta não há de esmorecer.

Sim, as artes ainda servirão.
O fervor religioso, amém, por certo que não.

A Poesia?
Existirá, apenas. Não é de seu feitio servir.

- Como é glorioso e inventivo o homem tecnológico!

Da criatividade,
Para o cruel, o sádico,
O sarcástico, o esmagamento,
Nunca nos livraremos.

Inventaremos, sempre,
Novas formas de sofrimento.

O Circo Romano foi a criação mais genuinamente humana.
Comparável, apenas a bomba atômica.


- Como é glorioso...


Confortavelmente recostado em meu sofá,
Assisto às desgraças cotidianas.

Medianas, Grandiosas, Espetaculares,
Inesquecíveis.
Até que o tédio nos separe.

Não te aborreças, porém, se
Por algum acaso,
Perderes o teu noticiário favorito.

O sangue, de uma forma ou de outra,
Respingará em tua face.

Em alta definição, em 3D,
Em pixeis megalomaníacos,
Em câmaras lentas,


Em dolby estéreo, em 5.1 canais, em 51 canis,
em 51.000 bacanais.

Em uma catarseofoniquisteria.

- Como é glorioso e inventivo e incansável e imponente o homem tecnológico!

Amigos íntimos de algum desconhecido
Infeliz, em seu país distante,
Esqueceremos do bom-dia do dia-a-dia,
Ao nosso vizinho, o recusaremos.

E vamos nos perdendo,
Em frente às telas maravilhosas,
Hipertelas, Hipnóticas.

(Como é só o homem tecnológico...)

E o Sexo, disponível
Em quantidades intangíveis, intangível.
Sem odor, sem calor, sem suor, sem rubor.

O sexo cru, cruento, cruel
Preciso, profissional,
Industrial.

O sexo em 666.999 polegadas.

Imenso, descomunal,
Grandioso,
Monstruoso.

Indecentemente maior
Do que o meu simples e ridículo sexo de homem.

E todos viraremos bestas lascivas]

- Como é glorioso e inventivo e incansável e imponente e potente o homem tecnológico!

A impotência nos assombra...

Mas espere!


O gatinho que mora comigo,
Por minha filha escolhido,
Acaba de derrubar o mouse no chão,
Pedindo um pouco de carinho...

3 comentários:

  1. Pedro
    Gosto de muitos versos do poema. Mas, o que mais faz efeito para mim é o aparecimento dos números, que agora você explora e desmonta como antes fazia com as palavras.
    Maria Clara

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  2. AHhahaahha o pobre gatinho nos trazendo de volta à realidade!

    Belo texto Pedro.

    Abraço.

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  3. Querido Marola, não quero carregar essa culpa pelas minhas taras tecnológicas, posso dar a desculpa que isso faz parte do meu trabalho, mas para provar que não estou tão isolada assim, faço o convite que venha nos visitar com seu mágico violão e tocar sob o luar da nossa nova residência, vai ter direito a churrasquinho e caipirinha de frutas.
    Gostei muito do poema, mande mais, acho que já estou ficando viciada nessa coisa de ler poesias em Blogs modernos, graças a TECNOLOGIA desenvolvida por homens tecnológicos :-)
    Bjs
    Ane Hinds

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