hoje, esvaziado de sentidos
pretendia jogar ao mundo
palavras do meu eu mais profundo
que me preenchessem
que me esvaziassem da angústia
porém, admoestado por um poeta amigo
percebi o perigo
de transformar meus versos
em um muro íntimo de lamentações
eu, meu, eu, meu
hoje, em resposta a outro artista
este um tanto sem tato
não vesti os trapos
de um pobre coitadinho
com trajes de profeta
e olhos de sábio poeta
quis revelar os outros
quis reler as vidas
falho
mais de poema e meio andado
me traio
auto falo
falo ereto
amo solitário em praça púbica
meus ínfimos dissabores
sonso egoísta
eu, meu, eu, meu
me perdoem bardo solidário
e meu irmão inquieto
nada acrescento, hoje
ao saber ou fazer dos homens
escrevo traças
não entrego
um pingo de alívio
às melancolias alheias
continuo poetando em mim
eu, meu, eu, meu