hoje, esvaziado de sentidos
pretendia jogar ao mundo
palavras do meu eu mais profundo
que me preenchessem
que me esvaziassem da angústia
porém, admoestado por um poeta amigo
percebi o perigo
de transformar meus versos
em um muro íntimo de lamentações
eu, meu, eu, meu
hoje, em resposta a outro artista
este um tanto sem tato
não vesti os trapos
de um pobre coitadinho
com trajes de profeta
e olhos de sábio poeta
quis revelar os outros
quis reler as vidas
falho
mais de poema e meio andado
me traio
auto falo
falo ereto
amo solitário em praça púbica
meus ínfimos dissabores
sonso egoísta
eu, meu, eu, meu
me perdoem bardo solidário
e meu irmão inquieto
nada acrescento, hoje
ao saber ou fazer dos homens
escrevo traças
não entrego
um pingo de alívio
às melancolias alheias
continuo poetando em mim
eu, meu, eu, meu
O poema lírico é isto mesmo:"amo solitário em praça púbica/meus ínfimos dissabores/sonso egoísta
ResponderExcluirComo sair disto, do eu lírico que se olha e se diz como eu? Por vezes sendo possuído pela própria máquina poética, por vezes se estatelando diante do lado de fora, concreto ou natureza.
Mas, o que sempre me toca em teus poemas é o que sempre me inquieta nos meus: extrair os hai-kais do texto desdobrado. Esta é para mim a pesquisa da poesia e por isso destaco a estrofe que você manda, sem inocência, no email - nela, mais uma vez, dentro do teu poema desenvolto você produz a condensação do hai-kai.
Beijos, Maria Clara
Bravo, bravo! Belíssimas palavras, Pedro.
ResponderExcluirIncrível como que não falando o que gostaria de falar, toca o coração dos tantos que à mesma conclusão tua chegaram.
Seu falar sem falas falou comigo, que continuo poetando para mim mesmo, enquanto ainda desvendo o meu eu mais profundo. Ainda.
Enganas-te ao dizer que não entrega alívio às melancolias alheias.
Um dos teus mais belos poemas que li é esse.
Adorei o final: continuo poetando o mundo... Daniela Reetz
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