As rosas não têm neuroses,
Os gatinhos brincam e arranham.
A pedra não tem dúvidas.
A faca corta, o relógio marca,
a bala mata.
João Cabral se foi. Há muito.
Há muito em João Cabral.
Coisas úteis, eternas ideias.
E quanto a nós,
homens ordinários, comuns,
em que nos fiaremos?
Matar, talvez.
Fugaz ilusão de vitória,
sobre a inútil morte.
Morrer, talvez.
Entender o que se foi,
quando nada mais se é.
Matar, ou morrer,
me trariam de volta à vida?
As vidas havidas, ávidas,
matar ou morrer me trariam?
Há vidas?
Jogos de palavras não vencem o nojo.
Uma bala cabeça a dentro,
explodindo neurônios,
elucidaria alguns mistérios.
Os gatos não pensam em balas,
nem sete, nem uma vez,
e são gatos.
Felinos. Ferinos. Gatos.
Então, é tudo questão de sorte,
nascer gato, rosa, pedra,
ideia de Melo Neto,
Ou morrer inútil homem,
filho e neto das ideias mortas?
A pedra não tem dúvidas.
A rosa parece bela.
A rosa perece bela.
A bala é.
Abalo, inútil, me abalo,
me esforço.
Pergunto, procuro, me torço, me esforço.
Faço as coisas úteis dos homens:
leio, escrevo, penso, escuto e falo.
E falho.
Tudo me aborrece.