crédito desconhecido
sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Alto lá!
Alto lá!
baixa o tom,
um ou dois, ou mais
uma oitava completa,
a melhor medida
segura toda palavra
qualquer palavra
por segura que fosse
arriscar-se-ia
escorreria
gota ácida
a dissolver a paz
tenho os meus dias diamante
gentil, homem feito, balanceado
e também os de dinamite
bem sabes
pavio seco
meio centímetro
do anjo à extra fera
cuida bem dos teus olhares
visita meus limítrofes
dá conta de quantos calos me ferem
Alto lá!
Estou a um nada de me descaber
se coubesse música nestas horas
estaria acima do si, suspendido
quase em dó
appassionato...
tanto te arriscas...
a descer escalas por mim
aos graves dos meus silêncios
aos baixos dos meus temperos
Te cuida...
deixa que eu te proteja,
afasta-te dos meus desterros
Alto lá!
Esta noite é de lua negra.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Atento
tomo tento
atento
tomo vinho
tinto ou branco
para lubrificar pensares emperrados
gelatinizar olhares
aprendo
apreendo
empreendo
desisto muitas das vezes
prometi em amizade
(jura de lágrimas é jura de sangue)
abraçar, com fervor,
a minha tanta incoerência
fracassei muito
gosto amargo de fiascos
em minha garganta
mas tomo tento
concentro
junto palavras, lembranças e sem-tidos
nada como um bom analgésico
nas horas em que a mente aquece
choro, choro, e choro
e prometo tomar tento
nunca esqueço, porém, do acordo feito
(pacto com bom amigo
nem o de encruzilhada supera):
desanuviar, destentar, desatentar
sorver toda gota de minha incoerência
Para Julio Moretzsohn
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Sumário
em suma
insumo
a bem de servir
células realinhadas
condenações reordenadas
em minúsculas entranhas
de seres quase nada
meio vida, metade morte
em suma
algo
a bem de informar
nada em especial
a minar as minhas alegrias hoje
Vislumbrei, apenas,
cri, em quase iluminar
(descrente sou):
ínfimas partículas minhas
íntimas pedrinhas de eu, Pedro
(pedra impolida),
liberadas de mim.
libertando minha brava e breve e rígida organização
alimentando mundos
em suma
insumo
em nada
tudo
domingo, 25 de dezembro de 2011
sábado, 24 de dezembro de 2011
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Vide o Verso
vide o verso
vinde o verso
ativa tuas narinas e pupilas
ao primeiro mofo interno
no tecido límpido da fronha
onde se deitam as tuas gentilezas
lava-te
ao primeiro naco de tecido puído
agarra uma linha
a primeira que alcançares
puxa com firmeza
e com toda a delicadeza
desvela o novelo
costura uma nova pele
firme
troca de superfície
só não te esqueça do verso
do reverso
do inverso
do avesso
vide o verso
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Preciso
tornar exato
nada mais preciso
buscar a justa medida
apenas para contorná-la
recortá-la
meus versos se encantando
mais e mais
pelo inútil, o desnecessário do exato
a necessidade, o básico: canos sob as ruas
água pobre
nada além do prometido...
um mais mais preciso
preciso, necessito
mais ar em meus pulmões
mais sangue em minhas feridas
mais saliva
a precisão do corpo sábio
preciso
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Distraído
Quantas horas já se me ofereceram
sem que eu a elas tivesse dado a necessária atenção?
Quantos minutos morreram
sem um íntegro olhar meu à pluralidade singular das coisas?
Quantos segundos passaram
vazios, desde que passei a fazer parte do conjunto dos tempos?
Quanto mais terei que perder e morrer
até me aperceber das horas, minutos e coisas
até não mais passar incólume
pelas vias dos fatos?
Mimado
Não aceito contratempo algum
menino mimado
Neste campo minado
explodido em meu peito
ausculto estilhaços
de minhas paixões
Nesta bacia náufraga
aventada em meu ventre
afogam-se águas revoltas
revolve-se o vício da falta
fatiado
enfastiado
assaltam-me temores
terrores noturnos e diurnos
o vigia da noite
dorme de dia
e também à noite
o porteiro do dia
trancou a porta da casa
e jogou a chave na noite
o fora da gente é a superfície de um mundo
maior que o mundo do lado de fora da gente
do lado da gente, ninguém
Não aceito espera alguma
garoto afoito
afloram
defloram
floram aflitos
mudos gritos de êxtase
em meu aparelho fonotriturador
do lado de dentro
olho quietinho, alerta
pro mundo além dos dentes
Não aceito pouco algum
homem voraz
queria te morder agora
Rumo
Perdido o rumo
me aprumo
Perdido o prumo
arrumo
Perdido o sumo
me assumo perdidamente sem rumo
rumino, rumino, rumino
mastigo capim amargo
boi manso
boi magro
boi bobo
sonsoslaio, desejo
desejo tanto que esqueço
o início de tanto desejo
quis, consegui
outro querer
quis, persegui
outro mais querer
quis, não me quis
sem querer, desisto
com querer, insisto
aguardo as horas
os assuntos, os buracos, me embaralham
cartas na mesa
esperando o momento de desvelá-las
resvalando em minhas apostas
voam debandadas a um berro meu
repito o erro sabido
eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu
rumino
boi tonto
boi solto
perdido em tanto capim
bichão bichinho
rumino
sem rumo
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Léxico amoroso
Amar
a.mar
vt, direto, indireto ou oculto, verbo transigente (lat amare) 1 Acolher 2 Aceitar 3 Arriscar(-se) 4 Confundir(-se): Quem ama o feio, o monstruoso poderá estar amando. 5 Iludir(-se): Amor eterno. 6 Delirar: Ama a Deus sobre todas as coisas! 7 Fazer sexo; rezar: Amaram-se biblicamente. Antônimo: desistir.
Amor
a.mor
sm, sf, transgênero, platônico ou plutônico (ingl love) 1 Altruísmo; entrega; compreensão 2 Auto-centrismo: Transbordavam de amor-próprio. 3 Amizade: Amor ao próximo. 3 Um dos sete pecados capitais: Amar ao próximo do próximo. Antônimo: covardia.
Amante
a.man.te
adj m+f_f+f_m+m (franc amant) 1 Aquele(s) que ousa(m) viver. 2 Diz-se, hodiernamente, dos loucos, tolos, insensatos, insanos, insantos, ingênuos e assemelhados. Antônimo: Descolado.
domingo, 11 de setembro de 2011
Caminhos
O Norte é ser forte
e a dor?
há que se ter a dor
Há que se ter ardor
O Sul, na rosa dos ventos
é embaixo,
ou para trás
retroceder, nunca
nunca?
a vida nos enleva
O Leste, o Oeste
direita, esquerda, volver
Vou ver o mundo
do Norte ao Sul
até que a morte me arrepare
descaminhos, desacertos
atalhos longos...
retalho minhas escolhas
rearrumo
re rumo
ao Norte?
e tenho lá esta força que o Mundo me cobra?...
Vem Rosa
me ergue pelos braços
me acalenta em seus ventos
me mostra o Mundo
os sentidos nos sentidos
calçaremos sapatilhas de plumas
e juntos
eu e você, Rosa, e os ventos
juntos bailarinos
encontraremos a paz dos caminhos fluidos
terça-feira, 6 de setembro de 2011
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Este dia
Este dia não me pertence
Esta noite me engole
Um sono que nunca durmo
Turvo, devaneio
Este dia não veio ao que disse
Esta noite me encolhe
Estes tempos não me pertencem
Definha, infindo
este dia que não me acolhe
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Sincero
Palavra alguma, silêncios.
Um momento sequer.
Um movimento, um ar, um hálito...
Foste?
Foste um pirilampo...
Um relâmpago: isto me iluminaria!
Amarga
Sem sal ou doce
indócil
Amargo
Há fel nas abelhas das minhas palavras
Ingrato
Foste?
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Reconhecimento para a Palestina
Um vídeo que oferece um novo caminho para a paz no Oriente Médio:
http://www.avaaz.org/po/middle_east_peace_now/96.php
http://www.avaaz.org/po/middle_east_peace_now/96.php
Tarja preta?
Instigante artigo publicado na revista Piauí deste mês. Selecionei alguns trechos. Leia a íntegra na revista.
Parece que os americanos estão em meio a uma violenta epidemia de doenças mentais. A quantidade de pessoas incapacitadas por transtornos mentais, e com direito a receber a renda de seguridade suplementar ou o seguro por incapacidade, aumentou quase duas vezes e meia entre 1987 e 2007 – de 1 em cada 184 americanos passou para 1 em 76.
No que se refere às crianças, o número é ainda mais espantoso: um aumento de 35 vezes nas mesmas duas décadas.
(...) A substituição da “terapia de conversa” pela das drogas como tratamento majoritário coincide com o surgimento, nas últimas quatro décadas, da teoria de que as doenças mentais são causadas por desequilíbrios químicos no cérebro, que podem ser corrigidos pelo uso de medicamentos. Essa teoria passou a ser amplamente aceita pela mídia e pelo público, bem como pelos médicos, depois que o Prozac chegou ao mercado, em 1987, e foi intensamente divulgado como um corretivo para a deficiência de serotonina no cérebro.
(...) O que está acontecendo? A preponderância das doenças mentais sobre as físicas é de fato tão alta, e continua a crescer? Se os transtornos mentais são biologicamente determinados e não um produto de influências ambientais, é plausível supor que o seu crescimento seja real? Ou será que estamos aprendendo a diagnosticar transtornos mentais que sempre existiram? Ou, por outro lado, será que simplesmente ampliamos os critérios para definir as doenças mentais, de modo que quase todo mundo agora sofre de uma delas? E o que dizer dos medicamentos que viraram a base dos tratamentos? Eles funcionam? E, se funcionam, não deveríamos esperar que o número de doentes mentais estivesse em declínio e não em ascensão?
Essas são as questões que preocupam os autores de três livros provocativos, aqui analisados. Eles vêm de diferentes formações: Irving Kirsch é psicólogo da Universidade de Hull, no Reino Unido; Robert Whitaker é jornalista; e Daniel Carlat é um psiquiatra que clinica num subúrbio de Boston.
Os autores enfatizam diferentes aspectos da epidemia de doença mental. Kirsch está preocupado em saber se os antidepressivos funcionam. Whitaker pergunta se as drogas psicoativas não criam problemas piores do que aqueles que resolvem. Carlat examina como a sua profissão se aliou à indústria farmacêutica e é manipulada por ela. Mas, apesar de suas diferenças, os três estão de acordo sobre algumas questões importantes.
Em primeiro lugar, concordam que é preocupante a extensão com a qual as empresas que vendem drogas psicoativas – por meio de várias formas de marketing, tanto legal como ilegal, e usando o que muita gente chamaria de suborno – passaram a determinar o que constitui uma doença mental e como os distúrbios devem ser diagnosticados e tratados.
Em segundo lugar, nenhum dos três aceita a teoria de que a doença mental é provocada por um desequilíbrio químico no cérebro.
(...) Quando se descobriu que as drogas psicoativas afetam os níveis de neurotransmissores, surgiu a teoria de que a causa da doença mental é uma anormalidade na concentração cerebral desses elementos químicos, a qual é combatida pelo medicamento apropriado.
Por exemplo: como o Thorazine diminui os níveis de dopamina no cérebro, postulou-se que psicoses como a esquizofrenia são causadas por excesso de dopamina. Ou então: tendo em vista que alguns antidepressivos aumentam os níveis do neurotransmissor chamado serotonina, defendeu-se que a depressão é causada pela escassez de serotonina. Antidepressivos como o Prozac ou o Celexa impedem a reabsorção de serotonina pelos neurônios que a liberam, e assim ela permanece mais nas sinapses e ativa outros neurônios. Desse modo, em vez de desenvolver um medicamento para tratar uma anormalidade, uma anormalidade foi postulada para se adequar a um medicamento.
Trata-se de uma grande pirueta lógica, como apontam os três autores. Era perfeitamente possível que as drogas que afetam os níveis dos neurotransmissores pudessem aliviar os sintomas, mesmo que os neurotransmissores não tivessem nada a ver com a doença. Como escreve Carlat: “Por essa mesma lógica, se poderia argumentar que a causa de todos os estados de dor é uma deficiência de opiáceos, uma vez que analgésicos narcóticos ativam os receptores de opiáceos do cérebro.” Ou, do mesmo modo, se poderia dizer que as febres são causadas pela escassez de aspirina.
Mas o principal problema com essa teoria é que, após décadas tentando prová-la, os pesquisadores ainda estão de mãos vazias. Os três autores documentam o fracasso dos cientistas para encontrar boas provas a seu favor. Antes do tratamento, a função dos neurotransmissores parece ser normal nas pessoas com doença mental. Por razões óbvias, as indústrias farmacêuticas fazem questão de que seus testes positivos sejam publicados em revistas médicas, e os médicos fiquem sabendo deles. Já os testes negativos ficam nas gavetas da FDA, que os considera propriedade privada e, portanto, confidenciais. Essa prática distorce a literatura médica, o ensino da medicina e as decisões de tratamento.
(...) O que todos esses medicamentos “eficazes” tinham em comum era que produziam efeitos colaterais, sobre os quais os pacientes participantes haviam sido informados de que poderiam ocorrer.
Diante da descoberta de que quase qualquer comprimido com efeitos colaterais era ligeiramente mais eficaz no tratamento da depressão do que um placebo, Kirsch especulou que a presença de efeitos colaterais em indivíduos que recebem medicamentos lhes permitia adivinhar que recebiam tratamento ativo – e isso foi corroborado por entrevistas com pacientes e médicos –, o que os tornava mais propensos a relatar uma melhora. Ele sugere que a razão pela qual os antidepressivos parecem funcionar melhor no alívio de depressão grave do que em casos menos graves é que os pacientes com sintomas graves provavelmente tomam doses mais elevadas e, portanto, sofrem mais efeitos colaterais.Os livros de Irving Kirsch, Robert Whitaker e Daniel Carlat são acusações enérgicas ao modo como a psiquiatria é praticada hoje em dia. Eles documentam o “frenesi” do diagnóstico, o uso excessivo de medicamentos com efeitos colaterais devastadores e os conflitos de interesse generalizados. Os críticos podem argumentar, como Nancy Andreasen o faz em seu artigo sobre a perda de tecido cerebral no tratamento antipsicótico de longo prazo, que os efeitos colaterais são o preço que se deve pagar para aliviar o sofrimento causado pela doença mental. Se soubéssemos que os benefícios das drogas psicoativas superam seus danos, isso seria um argumento forte, uma vez que não há dúvida de que muitas pessoas sofrem gravemente com doenças mentais. Mas como Kirsch, Whitaker e Carlat argumentam, essa expectativa pode estar errada. (...)
Por que cresce assombrosamente o número de pessoas com transtornos mentais e de pacientes tratados com antidepressivos e outros medicamentos psicoativos
por Marcia Angell
No que se refere às crianças, o número é ainda mais espantoso: um aumento de 35 vezes nas mesmas duas décadas.
(...) A substituição da “terapia de conversa” pela das drogas como tratamento majoritário coincide com o surgimento, nas últimas quatro décadas, da teoria de que as doenças mentais são causadas por desequilíbrios químicos no cérebro, que podem ser corrigidos pelo uso de medicamentos. Essa teoria passou a ser amplamente aceita pela mídia e pelo público, bem como pelos médicos, depois que o Prozac chegou ao mercado, em 1987, e foi intensamente divulgado como um corretivo para a deficiência de serotonina no cérebro.
(...) O que está acontecendo? A preponderância das doenças mentais sobre as físicas é de fato tão alta, e continua a crescer? Se os transtornos mentais são biologicamente determinados e não um produto de influências ambientais, é plausível supor que o seu crescimento seja real? Ou será que estamos aprendendo a diagnosticar transtornos mentais que sempre existiram? Ou, por outro lado, será que simplesmente ampliamos os critérios para definir as doenças mentais, de modo que quase todo mundo agora sofre de uma delas? E o que dizer dos medicamentos que viraram a base dos tratamentos? Eles funcionam? E, se funcionam, não deveríamos esperar que o número de doentes mentais estivesse em declínio e não em ascensão?
Essas são as questões que preocupam os autores de três livros provocativos, aqui analisados. Eles vêm de diferentes formações: Irving Kirsch é psicólogo da Universidade de Hull, no Reino Unido; Robert Whitaker é jornalista; e Daniel Carlat é um psiquiatra que clinica num subúrbio de Boston.
Os autores enfatizam diferentes aspectos da epidemia de doença mental. Kirsch está preocupado em saber se os antidepressivos funcionam. Whitaker pergunta se as drogas psicoativas não criam problemas piores do que aqueles que resolvem. Carlat examina como a sua profissão se aliou à indústria farmacêutica e é manipulada por ela. Mas, apesar de suas diferenças, os três estão de acordo sobre algumas questões importantes.
Em primeiro lugar, concordam que é preocupante a extensão com a qual as empresas que vendem drogas psicoativas – por meio de várias formas de marketing, tanto legal como ilegal, e usando o que muita gente chamaria de suborno – passaram a determinar o que constitui uma doença mental e como os distúrbios devem ser diagnosticados e tratados.
Em segundo lugar, nenhum dos três aceita a teoria de que a doença mental é provocada por um desequilíbrio químico no cérebro.
(...) Quando se descobriu que as drogas psicoativas afetam os níveis de neurotransmissores, surgiu a teoria de que a causa da doença mental é uma anormalidade na concentração cerebral desses elementos químicos, a qual é combatida pelo medicamento apropriado.
Por exemplo: como o Thorazine diminui os níveis de dopamina no cérebro, postulou-se que psicoses como a esquizofrenia são causadas por excesso de dopamina. Ou então: tendo em vista que alguns antidepressivos aumentam os níveis do neurotransmissor chamado serotonina, defendeu-se que a depressão é causada pela escassez de serotonina. Antidepressivos como o Prozac ou o Celexa impedem a reabsorção de serotonina pelos neurônios que a liberam, e assim ela permanece mais nas sinapses e ativa outros neurônios. Desse modo, em vez de desenvolver um medicamento para tratar uma anormalidade, uma anormalidade foi postulada para se adequar a um medicamento.
Trata-se de uma grande pirueta lógica, como apontam os três autores. Era perfeitamente possível que as drogas que afetam os níveis dos neurotransmissores pudessem aliviar os sintomas, mesmo que os neurotransmissores não tivessem nada a ver com a doença. Como escreve Carlat: “Por essa mesma lógica, se poderia argumentar que a causa de todos os estados de dor é uma deficiência de opiáceos, uma vez que analgésicos narcóticos ativam os receptores de opiáceos do cérebro.” Ou, do mesmo modo, se poderia dizer que as febres são causadas pela escassez de aspirina.
Mas o principal problema com essa teoria é que, após décadas tentando prová-la, os pesquisadores ainda estão de mãos vazias. Os três autores documentam o fracasso dos cientistas para encontrar boas provas a seu favor. Antes do tratamento, a função dos neurotransmissores parece ser normal nas pessoas com doença mental. Por razões óbvias, as indústrias farmacêuticas fazem questão de que seus testes positivos sejam publicados em revistas médicas, e os médicos fiquem sabendo deles. Já os testes negativos ficam nas gavetas da FDA, que os considera propriedade privada e, portanto, confidenciais. Essa prática distorce a literatura médica, o ensino da medicina e as decisões de tratamento.
(...) O que todos esses medicamentos “eficazes” tinham em comum era que produziam efeitos colaterais, sobre os quais os pacientes participantes haviam sido informados de que poderiam ocorrer.
Diante da descoberta de que quase qualquer comprimido com efeitos colaterais era ligeiramente mais eficaz no tratamento da depressão do que um placebo, Kirsch especulou que a presença de efeitos colaterais em indivíduos que recebem medicamentos lhes permitia adivinhar que recebiam tratamento ativo – e isso foi corroborado por entrevistas com pacientes e médicos –, o que os tornava mais propensos a relatar uma melhora. Ele sugere que a razão pela qual os antidepressivos parecem funcionar melhor no alívio de depressão grave do que em casos menos graves é que os pacientes com sintomas graves provavelmente tomam doses mais elevadas e, portanto, sofrem mais efeitos colaterais.Os livros de Irving Kirsch, Robert Whitaker e Daniel Carlat são acusações enérgicas ao modo como a psiquiatria é praticada hoje em dia. Eles documentam o “frenesi” do diagnóstico, o uso excessivo de medicamentos com efeitos colaterais devastadores e os conflitos de interesse generalizados. Os críticos podem argumentar, como Nancy Andreasen o faz em seu artigo sobre a perda de tecido cerebral no tratamento antipsicótico de longo prazo, que os efeitos colaterais são o preço que se deve pagar para aliviar o sofrimento causado pela doença mental. Se soubéssemos que os benefícios das drogas psicoativas superam seus danos, isso seria um argumento forte, uma vez que não há dúvida de que muitas pessoas sofrem gravemente com doenças mentais. Mas como Kirsch, Whitaker e Carlat argumentam, essa expectativa pode estar errada. (...)
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Nomes 2
O que sai de mim é meu, por enquanto.
Por encanto, minhas palavras já não são minhas.
Sou invisível sob o sol?
Ei, estou aqui, não está me vendo!?
Reescrevo: não está me lendo?
O indizível... é o que?
Indirigível, indigerível,
impróprio para consumo.
Pronto!, descubro: impróprio para consumo, estou.
Com o sumo da vida flerto. Apenas flerto.
Tanto me atrai.
Sem motivo?, afasto.
Desmotivado, me enfastio.
Tanto me distrai.
O cio do mundo me assusta.
O poder dos homens me assusta.
A beleza das meninas me assusta.
Insulto, xingo,
os assuntos me fogem.
Os nomes me esquecem.
Qual é a cor do seu perfume,
qual é o gosto da sua voz,
qual é o cheiro do seu toque?
Urjo: um pouco (muito estaria melhor)
do outro.
Ausentar-me, mergulhar-me em seus lados,
encharcar-me em seus líquidos,
Desejar-lhe minha falta.
A falta, a ignorância,
Os pedaços,
Com quantos fonemas rearrumo meus silêncios?
Um colo, um sorriso,
um olhar (“sim, eu te entendo”),
algo assim, banal,
banal, banal...
palavra fáceis
vida vilã...
carnal, carnal
sentidos alertas
conjecturas mortas
me dá um pedaço da sua alegria?
me dá um naco da sua voz farta?
me dá... qualquer coisa
uma coisa bem coisa
sem causa
uma coisa de efeito
me dá algo do seu outro mundo?
uma coisa bem coisa
sem nome
banal
desavergonhada
O que sai de mim é seu, por enquanto.
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