quinta-feira, 18 de março de 2010

Encarregado


Encarregado carrego o peso inteiro do mundo
Pressionado escorrego nos ermos do fundo
Aprofundado me assusto em menos de um segundo
Atolado me enterro, me engasgo em mim, eu imundo

Fazendo manha me perco, amanhã eu me acho
No outro dia não acho e faço bico, me agacho
Mamãe me dá o teu colo, me colo no seu regaço
Papai me dá o teu braço, me abraço em qualquer pedaço

Desconsolado me entrego a quem primeiro me ache
Achando a solução, soluço e peço baixinho
Me salva da confusão, me ama, entenda e me encaixe
Me encaixo todo em você, me fundo no seu caminho

E na fusão me confundo, eu já não sou mais ninguém
Você me olha do alto, então eu viro neném
E seu desejo fraqueja e fraco viro refém
Você não mais me deseja, queria um homem e não tem

Espero a sua volta, não volta e some na vida
Endividado me culpo, aperto a minha ferida
Desesperado me apego e já não sei mais a quê
Me pego triste, chorando, e eu nem sei o porquê

E aferindo um gesto, qualquer palavra, perdidos
Procuro explicações, invento estórias, eu crio
Criando vou me perdendo, meus traços são esquecidos
Perdido enfim eu percebo, vivi você, eu vazio

Esvaziado deliro, faço você ideal
Idealizando te caço, procuro a cada esquina
E assim dobrando, eu tonto, percebo em cada menina
Qualquer mulher um pecado, algum defeito fatal

Desfeito então o novelo, me encarrego agora por mim
Revejo em outros espelhos, com outros olhos, com zelo
Preencho, arrumo o espaço, construo um novo modelo
Modelo bem com cuidado um novo homem enfim
    

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