domingo, 5 de setembro de 2010

Mal-nu-scrito

Até quando agüentaríamos tal intimidade – suportava ainda a mim, que te adivinhava cada suspiro?

Suportava eu ainda a ti?, tornava-se mais, a cada dia, névoa da manhã fria, reflexo meu embaçado.

Confundiam-se nossas imagens.

Era a hora: a ausência, o afrouxar de mãos, o esquecimento - em algum breve instante no futuro - dos nossos gostos e dos nossos cheiros.

Me deste muito, em especial tua juventude; eu, para ti, arranquei de mim o que de melhor havia. Confesso, dei-me também em contraponto. A contragosto, meus piores matizes.

Perdoa-me, sou destas criaturas de sangue, que um dia morrem, e que por vezes fazem filhos. Pudera conter em mim, mesmo que em pequeníssima parte, divina porção. Limitado sou, porém, por destino trágico, às formas dos seres de carne. Sou filho dos filhos de outros filhos.

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