sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Achama


À noite todos os homens são pardos,
Ao dia, todos seus atos, parvos

Há noites em que desperto num pulo
Há dias, escuros, escusos

E eu que não creio, não espero,
Anseio

E eu que não entendo se sinto,
Sofro?

Qual é o nome disto, sem traços,
Sem laços, sem meios?

Como se chama o que não tem rosto,
Sem gosto, nem veias?

Isto o que eu penso, tem fundo?

O que eu não penso,
Sem rumo ou sentido,
Isto é sentimento?

Isto em meu peito, aperta
Isto em minha voz, engasga
Isto em minhas vísceras, contorce

Um abraço conforta
Um sorriso pede um abraço

Um braço chama, o outro afaga,
O afago encosta, o toque clama
Um beijo aflora, o outro cora
Mais lábios, mais línguas
Más línguas, mais perto

O perto assusta

Há noites em que acordo em um pulo
Ligo todas as luzes, às pressas
Tremo, temo, não sonho
Transpiro, sozinho, impuro

O mundo à volta, escuro. E vivo
Eu vivo?

A solidão em si, é nada
A solidão em mim, o nada
O encontro em ti, não é tudo

Como se junta, quando não é parte?

Como se fala, se pensa e se sente,
Quando se chora?

Como se anela o que não tem face, nem juntas ou moldes,
O que é a procura da procura da procura,
O que não tem vida, nem arte?

Como se achama?
  

3 comentários:

  1. fantástico...como se chama a dor? como se chama o amor? e a falta de ambos, como se chama?

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  2. Junta tudo num livro, Pedro, que eu compro!
    Tudo de bom,
    Mario.

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  3. Legal, Pedro!
    Parabens pelo blog !
    Amilcar

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